Mudanças de Paradigma: Do Mentalismo ao Behaviorismo

Desde os primórdios da reflexão sobre o comportamento humano, diversas correntes de pensamento buscaram desvendar seus mistérios. Se outrora a explicação residia em paixões, razão ou vontade, como preconizava a filosofia aristotélica, ou em mecanismos puramente fisiológicos, na esteira do pensamento cartesiano, o Behaviorismo Radical, capitaneado por B.F. Skinner, surge como uma perspectiva inovadora e, para muitos, revolucionária. A grande sacada de Skinner reside em deslocar o foco das causas internas e metafísicas para a análise das interações observáveis entre o organismo e o ambiente, conferindo um papel central ao modelo de seleção por consequências na explicação do comportamento operante. Portanto, para compreender a magnitude dessa mudança de paradigma, é crucial revisitar brevemente as explicações causais que Skinner buscou superar.

O mentalismo, com sua ênfase em estados internos, como mente, emoções e sentimentos, como os verdadeiros motores da ação, esbarrava na dificuldade de observação e mensuração objetiva desses eventos privados. Como acessar e analisar cientificamente algo que se passa no interior do indivíduo?

O fisicalismo, por sua vez, embora reconhecesse o papel do sistema nervoso no comportamento, pecava por reducionismo ao tentar explicar a complexidade da ação humana unicamente através de processos biológicos. O cérebro, inegavelmente importante, é apenas um dos elementos na intrincada dança entre o organismo e o mundo.

Por fim, o ambientalismo tradicional, que postulava que os estímulos ambientais causavam diretamente o comportamento, negligenciava o papel ativo do organismo nessa interação, como se fôssemos meros receptáculos passivos de influências externas. Diante desse panorama, o Behaviorismo Radical propõe uma análise do comportamento sob três níveis interconectados: filogenético, ontogenético e cultural.

A filogênese abarca a história evolutiva da espécie, legando-nos um repertório de comportamentos inatos essenciais para a sobrevivência.

A ontogênese se refere à história de vida do indivíduo, onde as experiências únicas de interação com o ambiente moldam seu comportamento através das consequências de suas ações.

Já a cultura engloba as práticas e costumes transmitidos de geração em geração, influenciando os comportamentos dos indivíduos inseridos em um determinado grupo social.

No entanto, a pedra angular da explicação do comportamento operante dentro do Behaviorismo Radical reside na distinção crucial entre buscar causas e analisar funções. Em vez de se perder na busca por antecedentes imediatos, o foco se volta para as consequências produzidas pelo comportamento. É aqui que o modelo de seleção por consequências entra em cena.

Imagine um estudante mediano, como eu, tentando entender esse conceito. No dia a dia, percebemos que repetimos ações que nos trazem resultados positivos e tendemos a evitar aquelas que nos causam desprazer ou punição. Essa observação trivial é, na verdade, a essência do modelo de seleção por consequências. Um comportamento operante, ou seja, aquele que opera sobre o ambiente, produz uma alteração nesse ambiente. Essa alteração, a consequência, retroage sobre o comportamento, afetando a probabilidade de sua ocorrência futura.

Se, por exemplo, ao estudar para uma prova, eu obtenho uma boa nota (consequência reforçadora), a tendência é que eu repita esse comportamento de estudar nas próximas avaliações. Por outro lado, se eu procrastino e tiro uma nota baixa (consequência punidora), a probabilidade de eu procrastinar novamente em situações semelhantes tende a diminuir. É um processo seletivo análogo à seleção natural: os comportamentos que geram consequências favoráveis são “selecionados” pelo ambiente e se tornam mais frequentes, enquanto aqueles que produzem consequências desfavoráveis são “selecionados contra” e tendem a desaparecer.

É importante ressaltar que, dentro dessa perspectiva, o estímulo antecedente não é visto como a causa direta do comportamento, mas sim como uma ocasião em que um determinado comportamento tem maior probabilidade de ser reforçado. Um sinal de trânsito vermelho (estímulo discriminativo) não causa a frenagem do carro, mas sinaliza que essa ação (comportamento) provavelmente evitará uma multa ou um acidente (consequência aversiva). A relação entre estímulo e comportamento é, portanto, contextual e histórica, moldada pelas consequências passadas.

A própria definição de comportamento operante enfatiza essa relação funcional com o ambiente. Uma “instância operante”, como bem pontua o texto fornecido, é uma ação específica que produz uma consequência observável. O ato de aplaudir gera um som; o pombo bicar um disco libera comida. O comportamento é definido não apenas por sua forma, mas, crucialmente, por sua função no ambiente e pelas consequências que ele produz. Generalizar que “organismos agem sobre o mundo” é vago; o Behaviorismo Radical busca especificar quais ações, em que contextos e com quais consequências.

Para um estudante mediano como eu, essa perspectiva traz um alívio e uma clareza surpreendentes. Em vez de me perder em divagações sobre meus “sentimentos” de preguiça antes de estudar ou na minha “falta de motivação”, o modelo de seleção por consequências me direciona a observar as relações entre meus comportamentos e os resultados que eles geram. Se eu quero estudar mais, preciso identificar as consequências que podem reforçar esse comportamento. Se quero diminuir a procrastinação, preciso analisar as consequências que a mantêm e buscar alternativas.


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