O surgimento do Behaviorismo no início do século XX, representou uma ruptura com as abordagens psicológicas anteriores que enfatizavam a introspecção e a objetividade, dois elementos que, até então, eram considerados fundamentais para entender o comportamento humano. Criado por John B. Watson e Ivan Pavlov, o behaviorismo propunha que a psicologia deveria se concentrar nas relações comportamentais observáveis e mensuráveis, defendendo a ideia de que o comportamento poderia ser estudado de maneira científica e objetiva. Logo, em meados de 1928, aos 24 anos após ter entrado em contato com esses autores, dentre outros, Burrhus Frederic Skinner interessa-se pela Psicologia, realizando diversos cursos, tornando-se Doutor e Pós Doutor, ministrando aulas em diversas universidades, dentre elas Harvard, até 1990 quando falece (Moreira, Medeiros, 2019).
Watson acreditava que as emoções e os pensamentos eram secundários e que o verdadeiro foco da psicologia deveria ser o comportamento observável em reação a estímulos ambientais. Essa mudança de paradigma foi fundamental para o desenvolvimento de novas teorias e práticas na psicologia, influenciando tanto a pesquisa acadêmica quanto a aplicação clínica da disciplina. O comportamento, em sua essência, foi elevado ao patamar de objeto de estudo, criando assim os alicerces para o que mais tarde se tornaria uma das vertentes mais influentes da psicologia moderna.
Apesar de na ocasião os processos estudados pelos primeiros behavioristas fossem simples, é importante notar que, mesmo para Watson, os processos geralmente chamados de mentais, cognitivos ou subjetivos, também eram relações comportamentais. Ao contrário do que muitos pensam, o Behaviorismo nunca negligenciou esses processos ou tentou varrer-los para debaixo do tapete (Bandini et al, 2015). A proposta desde o começo sempre foi compreendê-los de uma maneira diferente – isto é, como parte do que as pessoas fazem, e não como algo separado e independente do comportamento.
Já em Skinner, acreditava-se ser possível conhecer o homem e a sua natureza humana de uma forma muito mais profunda que aquela proposta pela Psicologia de sua época e, também pela de hoje. Acreditava que por mais complexo que fosse o comportamento humano (ou o ser humano), seria possível estudá-lo de forma científica. Enquanto muitos sustentavam concepções de que o comportamento humano era complexo para ser estudado científicamente, ou que a subjetividade humana está além do alcance da ciência. Skinner trabalhou árduamente em seus laboratórios para mostrar a viabilidade de uma ciência do comportamento e da inclusão dos “fenômenos comportamentais subjetivos” nesse campo.
A análise do comportamento, que se desenvolveu posteriormente através dos trabalhos de B.F. Skinner, aprofundou essa perspectiva ao focar em como os comportamentos são influenciados por suas consequências. Skinner introduziu conceitos como reforço e punição, que se tornaram fundamentais para entender a relação entre o comportamento e o ambiente. Há um equívoco ao dizerem que a análise do comportamento se distancia da subjetividade ao considerar que as emoções e pensamentos são, em grande parte, comportamentos que podem ser analisados em termos de suas funções e consequências. Na verdade, para o analista comportamental, esses sentimentos também são comportamentos. Os que contrariamente pensam, desconhecem a fundo os avanços desta prática clínica, o que leva a um debate sobre a validade e a adequação para compreender a complexidade da experiência humana.
Enquanto o behaviorismo se concentra em estímulos e respostas observáveis, as críticas apontam que isso pode deixar de lado aspectos importantes da consciência, da individualidade e da experiência interna, porém não é o que acontece. À medida que a análise funcional acontece, sobre o sofrimento apresentado, leva-se em consideração a história de vida do sujeito, nas suas minúcias particularidades e angústia reverberada. É sob esse argumento que alguns alunos menos curiosos às vezes, não se identificam com a prática do analista do comportamento ou com o Behaviorismo radical e mencionam que essa forma de pensar não faz parte, de modo algum, do leque de opções para seu trabalho ao final da graduação.
A maior parte destes que não se identificam, o fazem sem saberem de fato como esse trabalho é feito (Bandini et al, 2015). Porém, faremos meia culpa, afinal, ao longo dos anos o Behaviorismo escreveu e falou pouco para os profissionais de outras áreas e talvez para os próprios psicólogos de outras abordagens e também não ocupou espaço muito significativo na grande mídia (jornais, revistas e televisão). No entanto, as pesquisas em análise comportamental têm avançado em grande escala e o estudo sistêmico da análise experimental do comportamento tem sido fundamental nos últimos anos para novas abordagens que passam a integrar à prática psicológica como: a Terapia de Aceitação e compromisso (ACT); Terapia de Ativação Comportamental (BAT) ou Behavioral Activation Therapy (BAT) em inglês, que é um modelo de psicoterapia que está dentro dos princípios teóricos, filosóficos e experimentais da Análise do Comportamento e do Behaviorismo Radical. Foi pensada, inicialmente, como uma intervenção específica para o tratamento de pessoas com sintomas ou comportamentos denominados depressivos, característicos do Transtorno Depressivo Maior (DSM-5) e, a Terapia Comportamental Dialética. Essas abordagens reconhecem a importância das experiências internas, emoções e pensamentos, ao mesmo tempo em que utilizam princípios behavioristas para promover mudanças significativas no comportamento.
Sendo assim, em relação a muitas outras abordagens, o trabalho do analista do comportamento, embora essa realidade esteja mudando, foi pouco reconhecido tanto para os leigos, que no futuro ingressarão nas universidades e serão nossos alunos, quanto para os professores de universidade que às vezes trabalham muito próximos, mas não sabem exatamente o que faz um analista do comportamento. É com esse objetivo que esse artigo foi elaborado, oferecer aos alunos iniciantes da Psicologia ou de áreas afins, conhecimento sobre onde e como o analista do comportamento faz a sua prática profissional, podendo trabalhar nas mais diversas áreas, com as mais diversas populações e que ele está longe de ser um profissional restrito ao consultório psicológico ou a pesquisa animal.
Por fim, para se ter uma ideia, a abordagem analítica comportamental pode fundamentar de forma coerente e confiável, o trabalho de psicólogos, pedagogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e tantos outros profissionais que queiram entender e trabalhar com pessoas. Talvez você ao ler este texto não tenha tido contato ainda com essa abordagem analítica comportamental na sua prática clínica, mas o objetivo desse texto é encorajá-lo, principalmente você aluno de graduação, conhecer de forma mais detida a abordagem analítica comportamental aplicada à prática clínica. Esse pode ser um diferencial na sua vida pessoal e profissional.
Referências
Compreendendo a prática do analista do comportamento. Bandini, Carmen Silva Motta; Postalli, Lidia Maria Marson; De Araújo, Liércio Pinheiro; Bandini, Heloisa Helena Motta. Universidade Federal de São Carlos. Editora Eduscar, 2015.
Princípios Básicos de Análise do Comportamento. Moreira, Márcio Borges; De Medeiros, Carlos Augusto. Editora Artmed, 2ª ed.2019.
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