Sempre que pensamos em esquizofrenia, um turbilhão de imagens e ideias, muitas vezes equivocadas, pode surgir em nossa mente. Filmes, séries e até mesmo o boca a boca ajudaram a criar uma série de mitos que, em vez de esclarecer, só aumentam o preconceito e dificultam a vida de quem enfrenta esse desafio. Mas e se eu te dissesse que grande parte do que você ouve por aí sobre a esquizofrenia não é verdade?
É hora de colocar os pingos nos “is” e desmistificar algumas das crenças mais comuns:
“Esquizofrenia é só ouvir vozes.” Mito! As vozes (alucinações auditivas) são um sintoma comum, mas a doença vai muito além disso. Ela pode se manifestar com delírios (crenças falsas e inabaláveis), pensamento confuso e sintomas negativos, como isolamento social e falta de motivação.
“Quem tem esquizofrenia tem múltiplas personalidades.” Mito! Essa é uma das maiores confusões. Esquizofrenia não tem nada a ver com ter várias personalidades (o que seria Transtorno Dissociativo de Identidade). Na esquizofrenia, a pessoa perde o contato com a realidade e tem o pensamento desorganizado.
“A culpa é da família, da criação ruim ou de algum trauma.” Mito! Claro que o ambiente e o estresse podem influenciar, mas a esquizofrenia pode ter uma base biológica. Existem estudos que demonstram que certas alterações no cérebro e nos neurotransmissores podem ser também responsáveis pela doença.
“Pessoas com esquizofrenia são perigosas e violentas.” Mito! A verdade é que a maioria das pessoas com esquizofrenia não é violenta. Pelo contrário, elas são muito mais vulneráveis a serem vítimas de violência. Se há casos de agressão, geralmente estão ligados a outros fatores, não à esquizofrenia em si.
“Não tem cura, é uma sentença para a vida toda.” Mito! Embora seja uma doença crônica, a esquizofrenia pode, sim, ser tratada com muito sucesso. Com o acompanhamento certo, muitas pessoas conseguem controlar os sintomas e viver uma vida plena e feliz.
“É uma doença rara.” Mito! Pode parecer, mas a esquizofrenia atinge cerca de 1% da população mundial. No Brasil, isso representa cerca de 1,6 milhão de pessoas. É mais comum do que a gente imagina.
Mas afinal, o que é a esquizofrenia e como ela se manifesta?
A esquizofrenia é um transtorno mental complexo que afeta a forma como a pessoa pensa, sente e se comporta. Os sintomas variam bastante de uma pessoa para outra, mas geralmente são divididos em:
Sintomas Positivos:
São “adições” à experiência normal da pessoa:
Alucinações: A pessoa vê, ouve, sente cheiros ou sensações que não são reais. Ouvir vozes é o mais comum.
Delírios: Crenças muito fortes e falsas, como achar que está sendo perseguido, que tem poderes especiais ou que está sendo controlado.
Pensamento e fala desorganizados: Dificuldade em organizar ideias, falar coisas sem sentido.
Comportamento motor desorganizado: Movimentos estranhos, agitação ou, em alguns casos, falta de movimento (catatonia).
Sintomas Negativos:
São “faltas” ou diminuições de funções normais:
Sintomas Cognitivos: Afetam a capacidade de pensar, lembrar e prestar atenção:
Dificuldade de concentração e atenção.
Problemas de memória.
Dificuldade para processar informações e resolver problemas.
Dificuldade em entender situações sociais.
A boa notícia: tratamentos eficazes existem!
O tratamento da esquizofrenia é um caminho, e quanto mais cedo ele começa, melhores são os resultados. O objetivo é aliviar os sintomas, melhorar a qualidade de vida e ajudar a pessoa a se reintegrar na sociedade. As principais abordagens incluem:
Remédios Antipsicóticos
Esses são a base do tratamento. Eles ajudam a equilibrar as substâncias químicas no cérebro e controlar os sintomas como alucinações e delírios. Existem dois tipos principais:
Antipsicóticos Típicos:
São os mais antigos, como a Clorpromazina e o Haloperidol. Às vezes, podem ter mais efeitos colaterais nos movimentos.
Antipsicóticos Atípicos:
São mais recentes, como Clozapina, Olanzapina, Quetiapina e Risperidona. Geralmente causam menos efeitos colaterais motores e são os mais usados hoje. A Clozapina, em particular, é super importante para casos mais difíceis.
Terapias e suporte psicossocial
A psicoterapia e o suporte psicossocial são tão importantes quanto a medicação, pois ajudam na reabilitação e no bem-estar geral. Aqui não vou indicar uma abordagem psicoterapêutica, no entanto a eficácia do tratamento passa por um bom vínculo terapêutico e um método com sustentação prática que pode ajudar a pessoa a identificar suas questões e crenças, lidar com os sintomas e desenvolver estratégias para o dia a dia.
Outro método que se deve somar é a psicoeducação. Ela é de fundamental importância, tanto para o paciente quanto para a família, significa que esse método ensinará a todos sobre a doença, os sintomas, o tratamento e como lidar com os desafios. Isso ajuda a diminuir o preconceito e a garantir que o tratamento seja seguido direitinho.
Treinamento de Habilidades Sociais: Ajuda a melhorar a forma como a pessoa interage com os outros e a desenvolver habilidades para o cotidiano.
Terapia Familiar: Oferece suporte para os familiares, ajudando-os a entender a doença e a criar um ambiente de apoio.
Reabilitação Profissional: Ajuda o paciente a desenvolver habilidades para o trabalho e a encontrar oportunidades de emprego, promovendo a independência e a inclusão social. Sim muitas dessas pessoas são carentes de oportunidades profissional.
E por fim e não menos importante são terapias Complementares: Atividades como musicoterapia, dançaterapia, exercícios físicos, podem complementar o tratamento e trazer um bem-estar significativo.
Acompanhamento contínuo, precisamos falar
Nessa altura você que chegou até aqui nessa leitura, já percebeu que o cuidado com a esquizofrenia é uma jornada, não é de fato um mar de rosas, pois isso pode incluir:
Internação (quando necessário), geralmente, em casos mais graves, com risco para a pessoa ou para outros; a internação pode ser um primeiro passo importante.
Ajuste da Medicação: Visitas regulares ao psiquiatra são essenciais para ajustar os remédios e controlar os efeitos colaterais.
Apoio da Família e Comunidade: O suporte de quem está por perto e de uma boa rede de apoio faz toda a diferença para o sucesso do tratamento e para a qualidade de vida.
Olha, a esquizofrenia é uma condição que exige paciência, compreensão e um tratamento completo. Mas, com os avanços da medicina e a quebra dos preconceitos, é totalmente possível que as pessoas que vivem com ela tenham uma vida digna, feliz e produtiva. Lembre-se que a informação é a nossa maior aliada nessa jornada de desmistificação.
Se esse assunto lhe interessa procure aprofundar sobre.
Fontes:
Revistas especializadas como a “Revista Brasileira de Psiquiatria” (publicação da ABP).
Organização Mundial da Saúde (OMS) – Esquizofrenia.
PubMed e SciELO, possuem vários artigos que foram lidos para referência.
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