Como a Terapia Analítica Comportamental Ajuda na Esquizofrenia

Considero importante quebrar tabus. O tratamento da esquizofrenia é um processo que envolve diferentes abordagens, sempre com o objetivo de ajudar a pessoa a viver de forma mais equilibrada e com qualidade de vida.

Desde que Eugen Bleuler criou o termo esquizofrenia, essa condição é mais debatida do que estudada cientificamente. Estudos apontam que a esquizofrenia, costuma durar pelo menos 6 meses, com sintomas como delírios e alucinações. Pesquisas buscam entender as causas genéticas e biológicas, mas ainda não há respostas conclusivas sobre o funcionamento cerebral e a herança poligênica relacionada à predisposição para a doença (Martone & Zamignani, 2002; Pessoti, 1996; McMurray, Mikesell & Sobell, 2002; Seeman, 2009; Gottesman & Shields, 1967).

As primeiras tentativas de usar a análise do comportamento para entender o comportamento psicótico aconteceram entre 1953 e 1965 no Metropolitan State Hospital em Massachusetts, realizadas por B. F. Skinner e Ogden Lindsley, e foram documentadas por Rutherford (2003). O objetivo era verificar se os processos comportamentais observados em ratos e pombos ocorreriam em pessoas, sejam psicóticas ou não. Esses processos realmente ocorreram, mas algumas peculiaridades foram observadas nas respostas dos psicóticos, como irregularidades em reforçamento intermitente, baixa frequência de respostas e resistência à extinção. No entanto, as explicações para essas diferenças ainda não são claras (Martone & Zamignani, 2002; Reese, 1966/1976; Rutherford, 2003; Staats & Staats, 1963/1973).

Com a Terapia Analítica Comportamental, procura-se trabalhar de forma humanizada e compreensiva, levando em conta o contexto de cada indivíduo. Em vez de focar apenas na eliminação dos sintomas, ela busca entender por que certos comportamentos acontecem, considerando fatores internos e ambientais que influenciam a pessoa. Assim, o foco é construir habilidades e estratégias que ajudem o paciente a lidar melhor com suas experiências e a se adaptar às situações do dia a dia.

Na prática, a psicoterapia começa com uma análise detalhada dos comportamentos que causam dificuldades, como alucinações, delírios, isolamento social ou problemas na comunicação. O terapeuta, muitas vezes junto com o próprio paciente e, quando possível, com familiares ou outros profissionais, procura entender o que acontece antes, durante e depois desses comportamentos. Por exemplo, o isolamento social pode ser uma forma de evitar interações, onde a pessoa percebe como ameaçadoras ou desconfortáveis. Com essa compreensão, por meio da dessensibilização o terapeuta pode ajuda-lo a desenvolver estratégias para modificar esses comportamentos, sempre respeitando a história de vida de cada pessoa.

Uma das estratégias utilizadas no trabalho do analítico comportamental é o treino de habilidades sociais, que ajuda o indivíduo a melhorar sua comunicação e suas relações, reduzindo o isolamento e promovendo maior interação com o mundo ao seu redor. Além disso, mesmo que a medicação seja fundamental para controlar sintomas mais agudos, a terapia ajuda a pessoa a aprender a lidar com esses sintomas de forma mais funcional, identificando gatilhos, diminuindo a ansiedade que eles podem causar, e modificando comportamentos com atividades que desviem o foco dos sintomas.

Outra preocupação importante é incentivar comportamentos que contribuam para o funcionamento diário, como o autocuidado, a organização e o envolvimento em atividades que tenham sentido para a pessoa. Técnicas de relaxamento e práticas de mindfulness também podem ser incorporadas para ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade, que muitas vezes podem piorar os sintomas. Além disso, é muito importante preparar tanto o paciente quanto seus familiares para enfrentarem possíveis crises ou recaídas, criando planos de ação e estratégias de enfrentamento que aumentem a segurança e o bem-estar de todos. Esse cuidado é fundamental, pois cada pessoa desenvolve a esquizofrenia dentro de uma história de vida única, e compreender esse contexto ajuda a criar um tratamento mais eficaz e sensível às suas necessidades.

Outro aspecto importante, é a relação de colaboração entre terapeuta e paciente, que valoriza o respeito às experiências de cada um e buscando a autonomia da pessoa, tornando-a mais ativa no seu processo de recuperação. No entanto, é fundamental frisar que, a psicoterapia não substitui a medicação, mas funciona como um complemento que potencializa os resultados do tratamento. Enquanto a medicação ajuda a reduzir sintomas mais intensos, a terapia contribui para melhorar o funcionamento social, a autoestima e a adesão ao tratamento medicamentoso, promovendo uma melhora geral na qualidade de vida.

Referência:

EPAMINONDAS, Felipe Rosa; BRITTO, I. A. G. S. Esquizofrenia: estudos na Análise do Comportamento. Sobre Comportamento e Cognição: terapia comportamental e cognitivas, v. 27, p. 65-73, 2010.

MIRANDA, Elaine et al. A esquizofrenia sob a perspectiva dos princípios da análise do comportamento. 2005.

DE ASSIS SANTOS, Caroline Castro. O QUE A ANÁLISE DO COMPORTAMENTO TEM A DIZER SOBRE A ESQUIZOFRENIA?.


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