Pense bem: o dia a dia de um profissional de segurança pública é diferente de qualquer outro. Geralmente policiais são expostos a níveis altíssimos de estresse, vivenciam traumas que muitas pessoas jamais imaginaram, trabalham sob pressão constante e, muitas vezes, sacrificam o sono e o tempo com a família. Tudo isso tem um peso enorme na nossa saúde mental. Durante um turno de serviço, é provável que esse profissional viva uma necessidade de se readaptar a cada chamada no rádio, a cada deslocamento, a cada procedimento, há então o que vou chamar de uma labilidade profissional, pois a característica de seu trabalho o leva a tomar ações que vão de um extremo a outro e muitos casos.
Assim como no turno de serviço ele poderá participar de um momento de parturiente, a próxima chamada poderá o socorro a uma vítima de arma de fogo, com o agente nas proximidades ou até mesmo uma troca de tiro com um colega de profissão ferido. Como regular as emoções em um só plantão? Como sair de um turno e desacelerar, apagar tudo e agora resolver os problemas de casa com calma e serenidade? Devido a uma vida rotineira de circunstância como essa, dentre muitas outras situações em múltiplos anglos e ambientes, esse agente de segurança pública poderá viver agora uma labilidade emocional para além do seu turno de serviço, pois após, é um encontro consigo mesmo. Chegando-se a um não dar-se conta.
Essa labilidade emocional pode se manifestar de diversas formas: um momento de irritabilidade que parece surgir do nada, uma tristeza profunda sem motivo aparente, uma ansiedade que aperta o peito sem que você entenda o porquê. Às vezes, a reação emocional parece até exagerada para a situação. E, acredite, sentir isso é mais comum do que você imagina, especialmente na nossa profissão.
Lembro-me de uma vez que após um turno de serviço como o que acabara de relatar, doze horas intensas, fui para casa dormir, quando, à época, minha noiva entrou no quarto e encostou em mim para chamar para almoçar, ela relata que pulei em cima dela pronto para um ataque, foi quando meu pai viu a cena e me chamou pelo nome e eu acordei. De fato estava em cima dela a segurando firme e ela com os olhos arregalados assustados. Era hora de desacelerar, sair dos quase quatro anos do que chamávamos de curiango (noturno) e encaixar-me em outra atividade.
Não é segredo para ninguém que a rotina de um policial ou Bombeiro militar ou agente socioeducativo seja intensa, desafiadora e, muitas vezes, carregada de situações que exigem o máximo do ser humano. Lidar com o perigo, a pressão, a dor alheia e a constante necessidade de manter a compostura não é tarefa fácil. Em meio a tudo isso, é natural que, às vezes, as nossas emoções fiquem mais à flor da pele, mudando de repente, com uma intensidade que até nos assusta. Essa montanha-russa de sentimentos, essas mudanças rápidas de humor que podem ir da calma à irritação, da alegria à tristeza em pouco tempo, o exigirá habilidade e compromisso consigo mesmo para reconhecer que precisa de ajuda.
Não, a labilidade emocional não é frescura, nem sinal de fraqueza. É uma reação do nosso corpo e da nossa mente a um turbilhão de experiências. Essa instabilidade emocional pode ser um sinal de que a nossa mente está pedindo ajuda. Quando essas mudanças de humor se tornam frequentes e intensas, elas podem começar a afetar não só o nosso bem-estar, mas também a nossa vida profissional e pessoal. Pode ficar mais difícil manter a calma em situações delicadas, a concentração no trabalho pode ser prejudicada, e os relacionamentos com os colegas, a família e os amigos podem se tornar mais tensos.
É fundamental que a gente entenda que cuidar da nossa saúde mental não é um luxo, mas sim uma necessidade, especialmente para quem dedica a vida a proteger os outros. Reconhecer e aceitar as nossas emoções, mesmo as mais difíceis, é o primeiro passo.
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