Estamos sempre culpando os outros, por nossos fracassos e derrotas. “A culpa é da tecnologia, a economia, os governos, a família, os amigos, as redes sociais” e nunca da própria incompetência. Claro, existem exceções. Porém, dificilmente olhamos para nós mesmos e fazemos uma verdadeira autocrítica para perceber que o motivo de viver muitas coisas, sejam boas ou ruins, principalmente as ruins, é toda das nossas escolhas.
Por exemplo, João deseja muito ser escritor. Vamos considerar alguns requisitos básicos para ser escritor. Primeiramente, é necessário saber ler e escrever, não é mesmo? Isso é o básico dos básicos. Depois, é preciso descobrir qual público deseja atingir, para quem está escrevendo; e em terceiro lugar, João precisa identificar o assunto sobre o qual deseja escrever. Até este ponto, ele está apenas idealizando, e nessa fase geralmente não há problemas, mas agora vem a parte prática.
É importante ressaltar que essa primeira parte do desejo de João em ser escritor não precisa ser tão estruturada, uma vez que quem escreve pode fazer isso quando e onde quiser, sobre o que quiser: ideias, pensamentos, notícias, histórias, etc. No entanto, para se destacar e se tornar um escritor de fato, João provavelmente terá que dedicar tempo, disciplina e persistência. Ele terá que parar de ouvir vozes negativas, passar a ouvir os bons conselhos de quem já alcançou sucesso, moldar seu ambiente, traçar metas e seguir em frente, muitas vezes sozinho, em uma carreira em que ninguém o vê, pois aqueles que o veem, embora possam dizer que acreditam em seu potencial, só o respeitarão como um grande escritor quando ele se tornar um de fato. E está tudo bem, talvez não possa ser diferente, isso tem o seu proveito.
O problema é que sem disciplina, sem aprender a dizer não, João dificilmente terá sucesso em seu sonho de ser escritor. O excesso de sentimentalismo, auto-piedade, vulgaridade e hedonismo são elementos que podem ser identificados facilmente em uma vida considerada fracassada. Costuma-se chamar essas ervas daninhas na mente de distrações.
Seria possível enumerar muitas distrações aqui, mas hoje vamos destacar as redes sociais, que, assim como têm sido uma enorme aliada para o desenvolvimento pessoal de muitas pessoas, também têm sido responsáveis pela morte de grandes ideias, talentos, criatividade e autodidatismo – pela comparação, ansiedade, pela exposição e pelo excesso de tela. O excesso nas redes sociais tem matado as ideias próprias, produzindo indivíduos que já não pensam por si mesmos, sempre sob a influência distorcida de outros, que por sua vez já estão influenciados por outros, e assim por diante, além do tempo produtivo perdido.
No exemplo de João, as redes sociais podem ser uma grande parceira para inspiração e divulgação (como este texto que você está lendo agora), mas seriam uma grande inimiga se, no seu tempo de escrita criativa, ele perdesse tempo assistindo excessivamente vídeos e dicas de escritores. Percebem a sutileza? Claro, ele deve seguir e buscar dicas de escritores, mas observe que João estaria, no momento destinado à escrita, assistindo e buscando dicas de escritores nas redes sociais. Nesse caso, ele deveria separar um período de tempo para navegar nas redes, registrar as dicas e, assim que tivesse o material, sair das redes, recolher-se ao seu lugar de inspiração e continuar com sua matéria-prima.
Com o advento tecnológico, a maioria das pessoas tem uma quantidade imensa de informações instantâneas em suas mãos, ainda que superficiais ou moduladas. Se João se deixar levar, as redes sociais são tão atrativas que o levarão à futilidade e à castração de sua autoinvenção, levando-o a um ciclo infinito de rolagem que o fará perder o prazer de escrever.
Como no exemplo de João, muitos estão se distraindo nessa armadilha. Sonhos, amores e projetos estão sendo deixados de lado devido ao desânimo, cansaço e apatia. Entre várias risadas entre um Reels e outro, relacionamentos sólidos estão se fragilizando, e alguns já acabaram sem nem perceber. O que há de bom em qualquer tipo de excesso? – Nada. A palavra “excesso” já é negativa por si só. O problema do excesso, principalmente nos relacionamentos, é que aquilo que é visto como excesso no outro, provavelmente para esse outro, não foi ou não será percebido como tal.
Todavia, colocar-se no lugar de julgador, de sentenciador, pode não ser o melhor caminho. Talvez, ao considerar a subjetividade do indivíduo, o que é chamado de excesso nas redes sociais seja, na verdade, o escape, o alívio desse sujeito, sua forma de se sustentar emocionalmente. Aquele que coloca o outro sob avaliação pode estar em um momento diferente, buscando outros caminhos que não necessariamente envolvam os demais ao seu redor. Portanto, este texto tem um contexto, e nesse sentido, para aqueles que buscam seguir o exemplo de João, pode ser que veja a necessidade de avaliar-se.
Na era da informação instantânea e da constante conexão, é essencial cultivar a autocrítica e a disciplina para alcançar nossos objetivos. O exemplo de João, o aspirante a escritor, ilustra a importância de equilibrar o uso das redes sociais com a dedicação à prática criativa. Embora as redes sociais possam oferecer inspiração e oportunidades de divulgação, o excesso pode nos afastar da nossa própria voz e criatividade.
É fundamental reconhecer as distrações que nos impedem de realizar nossos sonhos e aprender a dizer não a elas. O caminho para o sucesso muitas vezes requer sacrifício, disciplina e persistência. Devemos estar atentos para não nos perdermos em meio ao mar de informações disponíveis, mas sim usá-las de forma consciente e construtiva.
Ao refletir sobre nossas escolhas e comportamentos, podemos encontrar o equilíbrio necessário para alcançar nossos objetivos, mantendo-nos fiéis a nós mesmos e à nossa criatividade. A jornada do escritor, assim como qualquer outra busca por realização pessoal, exige autoconhecimento, disciplina e a capacidade de discernir entre o útil e o supérfluo.
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