Atualmente pouco se fala desse instrumento indispensável para o trabalho terapêutico – o saber escutar.
Uma escuta qualificada vai além do que se ouve, ela também está no que se vê – o corpo também fala, o comportamento também se expressa. A escuta qualificada quase se materializa como um ímpeto à mente do analista que procura além do óbvio.
O segredo da escuta qualificada está no esvaziar-se. Nesse sentido, é impossível ao analista Terapeuta fazer uma leitura ou uma compreensão satisfatória, ou seja, confiável acerca daquilo que o escuta do outro sem que este esteja entregue ao momento. Com efeito, o ideal seria que, o profissional ao adentrar-se no espaço terapêutico seus conceitos pessoais, pré conceitos e seus achismos, fiquem de fora.
Essa é uma preparação básica para se começar um trabalho qualificado no acolhimento do outro. Significa ainda, permitir-se ver o outro, que transmite, recepcionando-o sem ruídos.
A escuta terapêutica qualificada é um trabalho resultante de esforço hercúleo. Afinal, controlar a ansiedade, a impulsividade, os pré julgamentos e o achismo, não leva o profissional à exaustão de anos na preparação formativa. Engana-se que o trabalho da escuta Terapêutica é um simples papel de estar diante do outro, supondo que apenas um monólogo basta. Não existe a figura do boneco de cera onde o profissional apenas existe ali e escuta, escuta e escuta.
No processo terapêutico a escuta através da fala, acontece um trabalho de interação mútua, onde de fato o cliente é quem fala; este é o momento em que a intervenção terapêutica se dá por meio de perguntas a fim de compreender o que o outro disse e o percebendo de forma acurada o que de pretende dizer.
O terapeuta não é apático
Apesar de ser necessário ao profissional esvaziar-se de seus dilemas, como já dito, essa não é uma técnica fácil. Nesse ponto considera-se frisar a relação terapêutica, onde a empatia é o eixo fundamental de ligação entre os dois seres humanos no exército da compreensão mútua. Os atendimentos devem estar distantes de serem monótonos a partir do momento de que ambos se entregam à relação cliente e terapêuta. Essa é a magia do trabalho.
Ainda como facilitador, é indispensável ao método, a utilização do método socrático que consiste na multiplicação de perguntas, induzindo o interlocutor na descoberta de suas próprias verdades e na conceituação geral de um objeto. Para a execução deste torna-se extremamente necessário que o profissional esteja totalmente entregue ao momento. Com isso evitará perguntas que não estão no contexto daquilo que o cliente trás, fazer suposições erradas, dentre outras gafes recorrentes, que prejudicam e muito a avaliação correta do quadro que se apresenta.
O objetivo da escuta terapêutica é não investigativa e sim compreensiva e a partir de tamanha compreensão que se encontra como sobressalto perguntas importantes diante dos fatos que o outro traz.
Quando analisamos o trabalho de Freud, para se ter exemplo, suas observações nos mostram que “as palavras são a forma de acesso por parte do ser humano ao desconhecido em si mesmo e o tempo da escuta que ressalta a singularidade de sentidos da palavra enunciada”.
É fato que a escuta e o diálogo são habilidades próprias dos seres humanos, sendo comum a concepção da escuta como apenas o ouvir, levando a acreditar que a escuta é instintiva, mas não é. Ela é uma ferramenta essencial para que o usuário seja atendido na perspectiva do cuidado como ação integral; por meio dela, é possível a construção de vínculos, a produção de relações de acolhimento, o respeito à diversidade e à singularidade no encontro entre quem cuida e quem recebe o cuidado.
Assim é muito importante e comum que ao sentir-se “ouvido”, a pessoa manifeste o desejo de que suas questões apresentadas sob ordens diversas sejam consideradas na forma como concebe e lhe impacta.
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